O MATADOURO MUNICIPAL
Os abates de gado bovino e suíno, até o final do século passado, eram realizados de forma rudimentar, pois a população do lugar era pequena e, a criação de aves, vacas de leite, bezerros, cabras, porcos, carneiros e outros animais de pequeno porte para consumo próprio, dava aos proprietários a condição de, eles próprios, efetuarem as matanças ou "sangrias", durante as quais toda a família se reunia para "lidar" com carnes, gorduras, barrigadas, etc., etc.. Não havendo geladeiras, as carnes eram salgadas ou cozidas, as gorduras derretidas, para possibilitar o armazenamento, e as barrigadas e sobras, "transformadas" em sabão. Não podiam faltar também os salames e lingüiças feitos à moda ou costume de cada um.
O primeiro açougueiro que se estabeleceu no lugar, no ano de 1898, foi o Senhor Ferrucio Bolla, na Rua 1º de Março esquina com a Rua Prudente de Moraes. Ele no terreno de sua propriedade à margem do Córrego Barra Bonita, construiu um matadouro para efetuar os abates. Outros açougueiros surgiram e a Prefeitura de Jahu sob cuja jurisdição estava o povoado, resolveu alugar o matadouro do Sr. Ferrucio Bolla, estendendo aos demais comerciantes de carne a utilização do mesmo.
A necessidade de local mais seguro e adequado para um estabelecimento dessa natureza fez com que o sub-Prefeito Manoel de Almeida Camargo destinasse uma área nas proximidades do Rio Tietê (atualmente Mini-Cidade da Criança). A Câmara Municipal de Jahu autorizou a compra de terreno que era propriedade de José de Salles Leme, em 2 de maio de 1908.
Não há registros sobre a sua construção. Apenas a data da inauguração: 25 de julho de 1914.
Contam "os menos jovens" que, para testar a qualidade da construção e dos equipamentos, o primeiro animal abatido pesou quase 35 arrobas (mais de 500 quilos) e já morto, foi erguido por uma carretilha instalada na viga mestra (tesoura) do madeiramento do telhado, que resistiu ao elevado peso comprovando a solidês da obra, sob aplausos dos presentes.
Esse matadouro foi utilizado durante quase 55 anos, período em que praticamente virou uma atração, pois o gado destinado ao abate vinha em manadas ou laçados e conduzidos pelos cavaleiros e boiadeíros.
O estouro de uma boiada fazia a festa da população. Era comum ver as rezes e os cavaleiros atravessando o Rio Tietê, à nado, pois ao refugarem a entrada do Matadouro, partiam em direção ao rio.
O mesmo ocorria na entrada da Ponte Campos Salles. O gado se comprimia e não entrava nela. Investia no cavalo e no cavaleiro, pulava cercas e partia para a liberdade. Era uma correria geral. Na Semana Santa, principalmente Sexta-Feira Maior, o alto madeiramento que cercava o Matadouro transformava-se em arquibancada para abrigar os aficcionados e curiosos em ver o "espetáculo" de laçar os animais, especialmente os mais bravos escolhidos "a dedo" para esse dia.
Era uma verdadeira demonstração de coragem e habilidade para laçar, dominar e abater o gado. Um detalhe importante: apesar do "incentivo" dos populares que se concentravam sobre a cerca do matadouro, os açougueiros não se exibiam. Ao contrário, realizavam o trabalho com seriedade e responsabilidade, sabendo do risco que corriam ao lidarem com os animais.
A cidade foi crescendo e a área do matadouro passou a integrar a faixa turística da cidade, tornando sua localização imprópria para as atividades de abates. Assim, um amplo e novo estabelecimento foi construído no Bairro Santa Elisa, pelo Prefeito Dr. Clodoaldo Antonangelo, transferindo-se para lá os abates para consumo da população, a partir de 27 de janeiro de 1969, dia seguinte da inauguração e data em que o "velho" matadouro foi demolido, após quase 55 anos de vida útil.
Em seu lugar, um grande projeto turístico foi implantado pelo Prefeito Dr. Wady Mucare: a "Mini-Cidade da Criança", inaugurada em 31 de janeiro de 1973.
O "Matadouro Municipal Millo Amélio Bolla" será focalizado em capítulo especial.