A SAÚDE PÚBLICA
Barra Bonita viveu, nas décadas de 1910, 1920 e 1940, o drama das epidemias de tracoma e febre palustre (maleita), além de casos de varicela e gripe espanhola. Pelos testemunhos dos remanescentes e dos jornais da época, podemos avaliar o quanto isso representou em perdas humanas e nos reflexos negativos que influíram decisivamente para retardar o desenvolvimento do lugar.
A maleita "varreu" praticamente a cidade, na década de 1910 até meados de 1920. Essa febre que "derrubava e matava", era provocada por picadas do inseto Anofelino, que se reproduzia com enorme velocidade nos pântanos, nas margens direita e esquerda do Rio Tietê, nos córregos, lagoas e nas várzeas de onde era extraído o barro para fabricação de telhas e tijolos, fato constatado pelo Dr. Arthur Neiva, Diretor do Serviço Sanitário.
Os operários das olarias - maior concentração de trabalhadores de então - e os da navegação fluvial, foram as maiores vítimas da maleita.
Os correspondentes locais dos jornais da Capital, dos quais extraímos estas informações, enviavam, constantemente, notícias denunciando o problema e solicitando providências das autoridades.
O tracoma - grave infecção nos olhos - que atingia particularmente os imigrantes, pela sensibilidade à forte luz solar, aos mosquitos e ao clima quente, também teve caráter epidêmico embora sem a duração e os efeitos nocivos da maleita. Em 1912, foi aqui instalado um Posto Anti-tracomatoso, sob a responsabilidade do médico Dr. Alexandre Tupinambá, havendo nessa época mais de duzentas pessoas em tratamento.
Quanto à maleita, o combate foi iniciado com os serviços de saneamento de ambas as margens do Rio Tietê - esgotamento das águas, drenagem e construção de aterro - estendendo-se tais serviços às lagoas, várzeas e margens dos córregos, além de fornecimento de cápsulas de quinino aos doentes, medicamento mais eficaz para a recuperação dos mesmos.
Em abril de 1918, o correspondente local do "Estadão", informava que o inspetor sanitário, Dr. Benigno Ribeiro, requisitado pelo prefeito Dr. Caio Simões, havia efetuado levantamento na cidade e na zona rural, constatando a gravidade da situação, pois mais da metade da população havia sido atingida pela febre nos meses de janeiro a abril e a terça parte desses doentes ainda estava infectada. Um verdadeiro flagelo!
A obra do saneamento do município foi lenta em virtude da falta de recursos materiais e financeiros para sua execução, mas eficiente pelos bons resultados na extinção dos focos infecciosos que propagavam a febre.
Com a dedicação dos nossos médicos Drs. Caio e Agenor Simões, Emygdio Meira Leite, Luciano Maggiori, Manoel Fadigas de Souza, João P. Cupeli e o trabalho incansável dos farmacêuticos: Vito Mele, Serafim Berti, Demósthenes Gonçalves e Mário Ferraresi; do Prefeito Antenor Balsi, ele próprio empunhando pás e picaretas para execução dos aterros; e dos serviços de enfermagem voluntária, nas visitas aos doentes e nas aplicações das injeções de "Palludan", realizados por Augusto Bombonatto, esse terrível mal foi finalmente erradicado até os meados da década de 1920.
Por volta dos anos 40, a maleita ameaçou retornar, com o surgimento de alguns casos isolados, sem maiores conseqüências. A cidade estava saneada e, a partir de então, não mais foram registrados casos de "maleita" em nosso município. Além do saneamento, dos esforços das autoridades municipais e da conscientização do povo para se evitar a proliferação dos focos infecciosos, Barra Bonita contava também com a dedicação dos novos médicos: Drs. Dionysio Dutra e Silva e Ruffino Antunes de Alencar Netto, além da sempre pronta colaboração dos farmacêuticos Amir de Andrade e Silva, Demósthenes Gonçalves e Adão Melges de Andrade e dos "voluntários" desse "batalhão da saúde": Augusto Bombonatto e Evaristo Siqueira Pinto, que se revezavam nas visitas aos "maleiteiros" e nas aplicações de injeções como verdadeira missão.
O PRIMEIRO POSTO DE SAÚDE
Não foram encontrados na unidade local, os registros sobre a instalação do primeiro Posto de Saúde da cidade, mas o jornal "O Município" nº 565 de 4 de setembro de 1927 anuncia que: "Acha-se installado em magnifico prédio à Rua Prudente de Moraes o Posto de Hygiene de Barra Bonita, sob a direção do Dr. Waldemar Castello", seu médico chefe.
O endereço é a atual residência de D. Anália Pompeu Simon, que tem na fachada o ano de sua construção: 1924.
Mais tarde, ainda de acordo com "as memórias vivas da cidade", o médico-chefe dessa repartição foi o Dr. Ruffino Antunes de Alencar Netto - Dr. Alencar - um profissional competente, humano e dedicado, que durante mais de vinte anos prestou relevantes serviços à nossa comunidade, destacando-se no atendimento aos doentes sem recursos e na vida pública, sendo eleito Vereador à nossa Câmara em 1936.
O Posto de Saúde e Assistência Médico-Sanitária, funcionou em vários locais, em prédios cedidos ou alugados, até a instalação, em 1962, do prédio próprio, em terreno doado pelo Município, à Rua 14 de Dezembro, na administração do Prefeito Vicente Zenaro Manin.
Em 30 de novembro de 1962, foi aprovada a Lei Estadual nº 7550, cujo projeto foi de autoria do nosso conterrâneo Deputado Dr. Waldemar Lopes Ferraz, transformando o antigo "Posto de Saúde e Assistência", em Centro de Saúde de Barra Bonita
(*) No endereço da Rua 14 de Dezembro, 623, um belo prédio de dois pavimentos, a "Unidade Bi-valente" - funcionou e atendeu os barra-bonitenses até a inauguração de novo e amplo prédio, no ano de 1979.
O "Novo Centro de Saúde" será focalizado em 1979.
(*) - Jornal da Barra nº 36