A PARTICIPAÇÃO DE BARRA BONITA NA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932, LEMBRANÇAS DESSE EPISÓDIO

A PARTICIPAÇÃO DE BARRA BONITA
NA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932

O "Governo Provisório" de Getúlio Vargas, iniciado em 1930, não corresponde aos anseios do povo.
A Constituição que todos sonhavam estava cada dia mais longe de ser conseguida. A insatisfação popular cresce em todo País e no Estado de São Paulo surgem movimentos cívicos, políticos e estudantis exigindo do Governo Federal a convocação de uma Assembléia Constituinte e eleições urgentes.
No dia 23 de maio de 1932, em São Paulo, durante um comício Pró-Constituição, os estudantes: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo são mortos pelas Forças Federais. Os ânimos se exaltam ainda mais e surge a sigla "M.M.D.C." (iniciais dos jovens mortos) que faz "explodir" o Movimento Constitucionalista.
Chega o dia 9 de julho de 1932. O Estado de São Paulo decide ir ás armas, pela volta do país à legalidade, escrevendo com sacrifícios uma das maiores epopéias cívicas de que se tem conhecimento. Sua alva bandeira, com listras pretas e vermelhas, agora significava paz mesmo que para isso sejam precisos o sangue e o luto.
Os acontecimentos se agravam e no dia 14 de julho o Prefeito local Dr. Dionysio Dutra e Silva passa o cargo ao Dr. Mário de Araújo Coriolano, Delegado de Polícia. Dois dias depois, isto é, a 16 de julho, o Sr. Fernando Maldonado Loureiro é empossado no cargo de Prefeito Municipal.
O entusiasmo se alastra, o clamor cívico se agiganta e Barra Bonita não fica omissa à esse chamado. Na sede do Ideal Club, às 13,00 horas do dia 15 de julho são convocados todos aqueles que desejassem formar no contingente barra-bonitense de voluntários, a se incorporar ao Exército Constitucionalista. Oitenta e nove assinaturas são registradas no livro competente. Nem todos, porém, irão para as frentes de batalha. Alguns homens formarão na guarda municipal e outros trocam a calma e a segurança de Barra Bonita pelo matraquear das metralhadoras, partindo para o local de combate. O Prefeito Municipal, Fernando Maldonado Loureiro, também deixa seu gabinete de trabalho pelas trincheiras, sendo substituído pelo Dr. Giovani Ferraz Costa, que fica interinamente no cargo até 14 de outubro de 1932, quando, finda a Revolução, reassume Fernando Maldonado Loureiro, que permanece no cargo até o dia 31 de outubro de 1932.
Face a importância desse Movimento que, apesar de derrotado, foi plenamente vitorioso no seu objetivo, e teve a participação de jovens barra-bonitenses, aqui vão para que sejam lembrados, os registros da Organização do Exército Constitucionalista de Barra Bonita e a Lista dos Voluntários, de acordo com o livro de Atas próprio fls. 1 a 3:


ATA DA ORGANIZAÇÃO DA COMISSÃO ORGANIZADORA DO EXÉRCITO CONSTITUCIONALISTA DE BARRA BONITA
Aos quinze dias do mês de Julho do ano de mil novecentos e trinta e dois, nesta cidade de Barra Bonita, Comarca de Pederneiras, na sede do Ideal Club, às treze horas, presentes as autoridades locaes, membros da Comissão Cívica de São Paulo, da Propaganda para organização de batalhões de voluntários para o Exército Constitucionalista e as pessoas gradas desta cidade, abaixo assinadas, de comum acordo foi constituida a Comissão de Alistamento de Voluntários para a constituição do contingente deste Município para o Exército Constitucionalista que ficou formada da seguinte maneira: Presidente, Dr. Mário de Araújo Coriolano, Delegado de Polícia; Secretário, Hermínio de Lima, Escrivão de Paz; membros: Fernando Netto, Fernando Loureiro, Dr. Emygdio de Meira Leite, Dr. Agenor Simões, Antenor Balsi e Manoel Trigo. Foi deliberado que o presente livro servisse para a inscrição de voluntários e que o salão nobre do Ideal Club fosse o local designado para a permanência do mesmo afim de receber as assignaturas. Do que para constar foi lavrada apresente ata que vae assinada pela Comissão local, pela Comissão de Propaganda e pessoas presentes ao ato. Eu Hermínio de Lima, Secretário que a escrevi e assino. (as) Mário de Araújo Coriolano, Hermínio de Lima, Dr. Agenor Simões, Fernando Netto, Fernando Maldonado Loureiro, Dr. Emygdio Meira Leite, Francisco Minnorchi, Antenor Balsi, Manoel Trigo, Cesar Costa, Alcides Cyrillo, Aloysio Fóz, Edmundo Lersicichini, Demósthenes Gonçalves, Arthur Battaiola, Afranio do Amaral Gama, Caio Simões.
A assinatura dos voluntários de Barra Bonita, para constituição do Exército constitucionalista: Fernando Maldonado Loureiro, Arthur Braghini, Horacio Battaiola, Dr. Carlos D'utra Vaz (médico), Francisco Minnorchi, Albano Bolla, Fernando Netto, Leone Stangherlin, Arlindo Simon, Octavio Antenor, Antonio Salinan, Geraldo Grisoni, Pio Mariano de Campos (campo AABB), David Stangherlin, Luiz Scaglione, Adolpho Turi, João Rathi, José Nardoni, Ayrton Gurgel, Estevam Ragoni, Avelino Cestari, João Franchini, Afranio do Amaral Gama, Arlindo Reginato, Angelo Victorio, Dr. Emygdio de Meira Leite (médico), Romulo Angelici, Eloy Lopes, Avelino Battaiola, Antonio Mantovani, Maria Lopes Meira (Cruz Vermelha), Benedicto Iaia, Eloy Stangherlin, Antonio Di Muzzio, Octavio Vitalino, Natalin Zugliani, José Alves, João Mascaro, Antonio de P. Monteiro (residente em Campos Salles), Alvaro Silva Lomba, Oswaldo Bononi, Antonio Conde, Cicero Pereira de Souza, João de Martino, Gustavo Ribeiro, Aristides Manoel Ignacio, Manoel Francisco, Diogo Galleotti (Fazenda Dr. Mário de Barros), Dorvalino Silva, Mário de Carvalho (cirurgião dentista), Antonio Machado de Oliveira (dentista), Augustinho Texeiro Nascimento, Augustinho Queiroz, João Vieira da Silva, Sebastião Neves (chaufer), Orlando laia, José Maria Oliveira, Pedro Guzzo, José Valentin, Francisco Rodrigues (é arrimo da mãe), João Malaquias, José Zanella, Juvenal Benfatti, Homero Jacob Souza, Abelino Bolla, Cacimiro Orozimbo Bressanin, José Agostinho, Affonso Ereno, Alexandre Parizoto, Edevar Martins, Lyrio Lodi, Sylvio Lourenção, Evaristo de Siqueira Pinto, Avelino Loureiro da Silva, Antonio Fiorello, Arlindo Manzotto, Walter Pires de Camargo, Jorge Fraga, João Fantinatti, Arthur Orsi, Augusto Guzzo, Domingos João Guzzo, Ricardo Pigatto, Sezario Minino, Antonio Julio, José Ribeiro, João Bernardo, Graciano de Oliveira, Vitorio Piecinoli.

LEMBRANÇAS DESSE EPISÓDIO:
1) Insuflados de cívico clamor, barra-bonitenses se engajaram como voluntários na luta de São Paulo pela volta do país à legalidade. Entre eles Horacio Battaiola, alto, magro e ossudo, estava em ação no local conhecido por Campininha de Monte Alegre. Súbito, explode à pouca distância um obuz então chamado por "chilips". Um projetil o atinge, alojando-se em um pulmão. Sem poder ser retirado. Horacio Battaiola com ele convive por 53 anos. Ao morrer, aos 82 anos, leva consigo seu troféu, a marca da sua luta pelo direito e pela justiça.

2) Thereza Gandini Bolla, viúva do Sr. Ferrucio Bolla, então chefiando numerosa família, era italiana, mas entusiasta da causa constitucionalista. Dois dos seus filhos, Albano e Abelino, foram para o combate, nos frontes. Quando lhe foi perguntado se não temia perder os dois filhos no conflito, a resposta, dita com os verdes olhos plenos de confiança, foi pronta: Se Ne Avrá Bisogno, in casa ce ne sono altri "Se precisar, em casa tem mais".

3) O Exército Constitucionalista lutou e resistiu bravamente, durante três meses, mas foi derrotado pelas forças federais. Os voluntários barra-bonitenses retornaram e o ideal da Constituição só seria concretizado em 1934.