Com jurados internacionais, Festival Internacional de Dança que começa nesta sexta-feira em Barra Bonita abre portas para que mais bailarinas se profissionalizem fora do país
Érica Lima Pinangé tem 15 anos. Ela é bailarina desde os 4, quando a mãe, Edna, a levou para ver uma aula a fim de ver a filha praticar alguma atividade física. No começo a garota estava reticente em continuar a fazer aulas, mas foi pegando gosto pela dança e já faz 12 anos que ela pratica a arte do balé. Aos 12, teve a oportunidade de participar de um grande evento de dança na Croácia junto de outras dançarinas e dançarinos de Barra Bonita. Foi a primeira vez que Érica viu como é o balé profissional europeu. “Percebi que era o que eu queria para mim. Os meus professores diziam que poderia dar certo, que as oportunidades apareceriam”, conta.
E as oportunidades apareceram mesmo. Em 2016, por meio de apresentações que foram destaque no Dance Fest, evento de dança realizado em Barra Bonita, ela, a bailarina Gabriela Sanches Corrêa e mais duas colegas foram convidadas a fazer um intercâmbio de 15 dias em Flensburg, na Alemanha, acompanhando o dia a dia de uma companhia de dança profissional. Em 2017, no mesmo evento, Érica e Giovanna Picelli, uma bailarina de Botucatu, ganharam mais 15 dias de intercâmbio. Como a barra-bonitense já tinha tido essa oportunidade e seu talento já era reconhecido por jurados internacionais do evento, conseguiram algo ainda mais valioso para ela: uma vaga em uma companhia de dança em Berlim, capital da Alemanha. E não era para pouco tempo. “Era para eu realmente ficar por lá e dançar para a companhia”, conta Érica.
De sexta a domingo, Barra Bonita está recebendo mais uma edição do Festival Internacional de Dança, o maior evento de dança da cidade e da região. Durante os três dias, mais 360 coreografias e 600 bailarinos de diversas cidades brasileiras vão passar pelo palco do ginásio da Associação Atlética Barra Bonita [veja a programação abaixo]. Com um corpo de jurados formado inteiramente por estrangeiros – sendo um deles Hans Joaquim Tappendorff, diretor do Comitê de Dança da Europa –, o Festival premiará os melhores trabalhos com intercâmbios para países europeus e ainda poderão identificar talentos da dança nos palcos e nos workshops que possam fazer parte de companhia de dança profissionais.
Oportunidades como essas não são oferecidas em nenhum outro festival ou evento de dança do interior paulista. Até mesmo a cidade de Joinville [SC], que abriga o Bolshoi no Brasil e um grande evento com premiação internacional, mandará uma delegação para concorrer também em Barra Bonita este ano.
“Realizo eventos há muitos anos e o objetivo é transformar a cidade em uma capital da dança”, diz Cidinha Cândido, secretária de Cultura de Barra Bonita e idealizadora do Festival Internacional de Dança. “Lá fora, a arte é uma profissão remunerada, com a segurança de todos os direitos trabalhistas. Fico feliz em saber que profissionais europeus acreditam no projeto e mantêm a parceria conosco anos após ano. Então nossa preocupação é apresentar trabalhos de qualidade.”
AS BAILARINAS PREMIADAS
Gabriela Sanches Correa, parceira de Erica Lima Pinangé na academia de dança Primeiro Movimento, começou a dançar aos 3 anos. Em janeiro deste ano, em mais uma edição do Dance Fest em Barra Bonita, ela apresentou duas variações, um solo e uma coreografia em conjunto. Ganhou o prêmio de Melhor Talento Feminino e obteve a maior nota dentre todas as apresentações do domingo. O reconhecimento também se converteu em oportunidade e hoje, também com 15 anos de idade, Gabriela se prepara para se mudar para a Alemanha em 2019 e também fazer parte de uma academia profissional de balé.
“Quando recebi a notícia fiquei em choque. Até agora é difícil pensar sobre isso, pois estamos longe da data da minha partida, mas vou continuar me dedicando muito até lá”, diz Gabriela.
Érica Lima Pinangé está se preparando para deixar o Brasil desde o ano passado e sua viagem para Berlim está marcada para 31 de julho. Durante os últimos 12 meses, teve tempo de se preparar para tudo, inclusive emocionalmente. “Eu sempre fui forte e só agora que está chegando a hora é que a emoção começa a bater. Vou sentir saudade no início, eu sei, mas a gente se acostuma”, diz a bailarina. “O importante é não se deixar abalar por isso. Meu objetivo sempre foi esse e nunca deixei nada me atrapalhar. Vou aprender com essa experiência e crescer.”
A preparação de Érica e Gabriela não envolve apenas a documentação necessária para viajar e morar em outro país. O rendimento atlético e artístico também não pode ser deixado de lado. Érica passa o dia inteiro na academia de dança Primeiro Movimento. Além de fazer aulas, também dá aulas para crianças enquanto a professora titular da academia, Tamirys Gabriel, está de licença maternidade. Gabriela contabiliza cerca de 20 horas por semana com a sapatilha nos pés, incluindo aulas com grupos mais jovens e mais velhos, além de ensaios de coreografias para festivais e eventos.
“Uma bailarina tem que ter amor de verdade pela dança, humildade e pura dedicação. Elasticidade e técnica a gente só consegue treinando”, explica Érica. “Fazer balé de terça e quinta apenas não é suficiente para se profissionalizar. Se você está em uma academia, frequente outros horários e treine sozinha se precisar. E no festival você precisa se comportar de acordo: nunca pareça tímida e nunca queira aparecer mais que outra pessoa de seu grupo.”
Edna Caetano Lima Pinangé, mãe de Érica, deu todo o suporte para que a filha pudesse chegar bem preparada à companhia em Berlim. Como o ano letivo alemão começa apenas em setembro e Érica não conseguiria se diplomar no ensino médio antes da partida, Edna tirou a filha da escola em 2018. Érica passou os últimos seis meses se dedicando ao balé e estudando inglês pra valer. Como a companhia de dança recebe bailarinos de várias partes do mundo, o inglês acaba sendo o idioma comum entre eles.
Edna diz que a filha é muito responsável e que nunca se desviou de seu objetivo. “Não tenho orgulho por ela ter sido convidada para dançar na Alemanha. Tenho orgulho da pessoa que ela está sendo: focada, resolvida, sem vícios. Muito disso eu devo à Cidinha, à Tamyris Cândido e à Tamirys Gabriel, que sempre exigiram disciplina das bailarinas, mas também mostraram muita bondade também.”
“Os pais são fundamentais nessa hora”, diz Gabriela. “É importante ter o apoio deles, alguém do seu lado dizendo que vai estar ali para te ajudar. Acho muito massa ver minha mãe na plateia me aplaudindo e ficando nervosa por mim.”
OPORTUNIDADE
Assim como Érica Pinangé e Gabriela Corrêa, além de tantos outros bailarinos e bailarinas que já mostraram excelentes trabalhos nos palcos de Barra Bonita nos últimos anos, neste final de semana novos talentos deverão ser revelados e convidados para intercâmbios e vivências fora do país para desenvolverem ainda mais a sua arte.
“É difícil seguir uma carreira de bailarina ou bailarino profissional no Brasil ou mesmo ter algum sucesso na área, porque as oportunidades são poucas aqui. Quem quer seguir essa carreira, como eu, deve aproveitar ao máximo um evento como o Festival Internacional de Dança de Barra Bonita, porque ele abre portas mesmo”, Érica ressalta. “No interior de São Paulo, só Barra Bonita oferece essa chance.”
“Não há eventos de dança desse porte na região. Quando o Festival Internacional acontece, não é só para bailarinos, já que o público também pode participar e conhecer”, Gabriela complementa. “É importante que todos que queiram se profissionalizar saibam dele para que possam ter oportunidade também. A Érica está indo embora por causa desse evento. Eu também vou por causa dele. Se não fosse esse Festival, talvez não tivéssemos a chance de ingressar em companhias no exterior.”
“Esse evento tem um custo muito baixo para os alunos, para as academias participantes e para o público, mas pode proporcionar coisas muito boas para todos”, destaca Cidinha Cândido.
A noite de gala marca a abertura do Festival Internacional de Dança e ocorrerá na sexta-feira, dia 6, às 20 horas, no ginásio de esportes da AABB, com uma apresentação inédita da companhia de dança Landestheater Schleswig Holstein Flensburg, que enviou um grupo de dançarinos da Alemanha especialmente para se apresentar em Barra Bonita. A entrada é gratuita, mas os organizadores sugerem a doação de um litro de leite ou um kg de alimento não perecível que será doado a entidades do município.
A realização do evento é da FrandiProduções, com o apoio da Prefeitura de Barra Bonita através das Secretarias de Cultura e Turismo, e da Educação, e dos parceiros Associação Atlética Barra Bonita, Hotel Estância Barra Bonita e ONG Mãe Natureza.
SERVIÇO
FESTIVAL INTERNACIONAL DE DANÇA
De 6 a 8 de julho, na AABB
PROGRAMAÇÃO
SEXTA-FEIRA
20h – Noite de Gala
- Apresentação da Cia. de dança alemã Landestheater Schleswig Holstein Flensburg & Convidados
SÁBADO
9h – Ballet Clássico Avançado (Workshop)
Coreógrafa Anja Herm - Alemanha
10h30 – Pas de Deux (Workshop)
Coreógrafo Hans Joaquim Tappendorff – Áustria
15h – Início das apresentações
Mostra Analisada e Competitiva
DOMINGO
9h – Ballet Clássico Infanto-juvenil
Coreógrafa June Tappendorff – Áustria
10h30 – Moderno Contemporâneo
Coreógrafos Anna Schumacher e Timo Felix Bartels
12h – Jazz Funk
Coreógrafo Pedro Reis – Brasil
13h30 – Início das apresentações
Mostra Analisada e Competitiva