O FIM DA NAVEGAÇÃO FLUVIAL, A PARALIZAÇÃO DO SERVIÇO FLUVIAL DA SOROCABANA

O FIM DA NAVEGAÇÃO FLUVIAL

Vimos, nas páginas iniciais que, mesmo antes da fundação do povoado, existia à margem do Tietê, Junto à foz do Córrego "da barra bonita", um porto fluvial por onde passavam e ancoravam as embarcações dos bandeirantes, rumo às descobertas de minas de ouro. Nesse porto também ancoravam os vapores e lanchas da "Navegação Fluvial Ytuana" empresa que, desde 1875, efetuava o transporte de produtos agrícolas e gêneros alimentícios destinados ao comércio e ao consumo das populações da região, originando-se daí o "Porto da Barra Bonita".
Os primeiros registros falam da existência naquele local de um barracão de madeira que servia de depósito e de instalação para a Ytuana, que, pela Resolução nº 153 de 7 de junho de 1893, foi encampada pela "Navegação Fluvial Sorocabana", incorporando à mesma todo o seu acervo, inclusive os vapores, armazéns e barracões existentes em Barra Bonita já detalhado no Capítulo "A Criação do Distrito de Paz".
Por volta de 1920, pressionada pelas autoridades e pela população local, a Sorocabana efetua algumas melhorias no barracão e constrói, de tijolos, a frente do mesmo, já então conhecido como "armazéns da Sorocabana".
O crescimento da cidade e da produção agrícola, notadamente o café, foram determinantes para que a "Navegação Fluvial Sorocabana" providenciasse a construção de novas instalações, que pudessem armazenar grandes quantidades. E, em 1930 anuncia que o novo armazém a ser construído terá capacidade para cento e cinqüenta mil sacas.
As obras foram entregues à empresa barra-bonitense, Caetano Bertagnolli & Irmãos, construtora dos dois prédios de quarenta metros de comprimento por vinte e seis metros de largura cada um, concluídos em 1931. A competência indiscutível dos construtores provou-se ainda mais, com o transcorrer do tempo, pois ambos os armazéns, com as necessárias adaptações, mas conservando a mesma estrutura inicial, transformaram-se, a partir de 1976, no Hotel Beira Rio (Administração Tatinho-Kyelce).
Os vapores "Barra Bonita", "Souza Queiroz", "Visconde de ltu" e tantos outros que trafegavam em extenso trecho do Rio Tietê, desde Piracicaba até o Porto Lençóis, com grande número de lanchas transportando lenha para as olarias, foram aos poucos desativados.
- A partir de 1950 começaram a surgir os boatos da paralisação da Sorocabana. E no jornal local "A Cidade", edição nº 62 de 3 de junho de 1950, era publicada a seguinte matéria que muito bem demonstra a importância da navegação fluvial para o nosso município:


A PARALIZAÇÃO DO SERVIÇO FLUVIAL DA SOROCABANA
A ameaça da paralisação total das barcas da Sorocabana que trafegam pelo Rio Tietê, está preocupando seriamente aos que tem se servido até agora desse meio de comunicação. Principalmente os nossos oleiros, que constituem indubitavelmente um dos fatores preponderantes à riqueza do município, irão sofrer bastante se isso se concretizar.
A lenha que alimenta nossas olarias e que serve mesmo à população, chega até Barra Bonita por esse serviço da Sorocabana e que data desde o início da vida do município. Isto para citar somente um lado do assunto, pois essa linha fluvial tem se constituído num dos fatores do nosso progresso e já se tornou uma tradição na história municipal. Não há barra-bonitense que não fale lá fora, do nosso vaporzinho, apitando alegremente ao chegar ao porto de Barra Bonita.
Sua extinção é como que a destruição de alguma coisa muito cara e de efeitos não só material, como moral. Será mais um golpe negativo do governo estadual contra os nossos interesses e que se junta à pouca vontade até agora demonstrada para com o nosso município. E lembrarmos que demos a maioria nas urnas ao atual governo!
No entretanto, ainda esperamos que alguma coisa seja feita no sentido de se evitar a paralisação dos serviços da linha fluvial da Sorocabana. A instituição do serviço rodoviário entre esta cidade e Rodrigues Alves não irá resolver a questão, pois o aumento do frete, dessa forma, é sensível. Mesmo o transporte de telhas, continuará sendo feito por caminhões particulares, atendendo-se à rapidez e maior eficiência do serviço.
Esperamos, por isso mesmo, que esse fato não se concretize e que alguma coisa seja feita nesse sentido. Não haverá de custar muitos sacrifícios à ferrovia em questão, a manutenção das barcas. O que é preciso é um pouco mais de boa vontade para com esta pequena, mas rica célula da comunidade paulista.
Deixamos aqui o nosso apêlo ao govêrno do Estado e à direção da Estrada de Ferro Sorocabana, para um novo exame do assunto, certos de que estamos interpretando o pensamento de cinqüenta oleiros de Barra Bonita, além de outra parcela ponderável da nossa população, que está intimamente ligada à vida dessa linha fluvial.

De nada valeram os protestos da imprensa, nem os esforços e o empenho de nossas autoridades. A partir de 1952, é extinto o transporte fluvial, e os vapores "Visconde de Itu" e "Souza Queiroz", são levados para a cidade de Registro onde farão o transporte fluvial entre Registro e Iguape. Aqui permanecem os agentes administrativos, funcionários dos armazéns e os responsáveis pelo telégrafo: José Teixeira, Benedito Silveira de Almeida, Geraldo Francisco, Claudemiro Marcelino (Lau), Leoncio Florencio, Izidro Breve, Arthur Silva, José Paulino, Gentil Diogo (Nan), José e Osório Coelho, Pedro Tobías, Gonçalo dos Santos, Antonio Machado Assumpção, Cornelio Carvalho (Capitú) e mais tarde Gelsio Bragiatto, conforme depoimentos de D. Josefa da Silva (esposa de Arthur Silva) e Claudemiro Marcelino (Lau). O telégrafo funcionou até meados de 1972. Posteriormente, a estatal "Ferrovias Paulista S/A - FEPASA", extinguiu e encampou todo o acervo da "Sorocabana" em Barra Bonita, retirando todos os pertences em equipamentos ligados á histórica navegação e transporte fluvial. A partir daí os antigos armazéns e áreas anexas passaram a servir de acomodação para desocupados, causando preocupações e problemas para o Prefeito Dr. Clodoaldo Antonangelo que, em 1973, definiu pela desapropriação e aquisição daquele patrimônio, transformado, após reformas, no Hotel Beira Rio.


O vapor "Visconde de Itú", a lancha e os armazéns da "Sorocabana"