NASCENTE DO RIO TIETÊ EM SALESÓPOLIS
BARRA BONITA - A ORIGEM DO NOME
Na localidade conhecida por Serrote da Barra, na Serra do Mar e município de Salesópolis, nasce o rio Tietê com características importantes. Contrariando o dito popular que diz "todos os rios correm para o mar", o Anhembí - como era conhecido pelos primitivos habitantes - para o oceano dá as costas, e se embrenha pelo interior do Estado de São Paulo, como dividindo-o na direção leste-oeste, ao longo dos seus mil e cem quilômetros de extensão.
No século dezenove, o país - jovem então - ansiava por maiores descobertas, pois seus colonizadores impregnados de européia influência, sentiam suas enormes potencialidades. As perspectivas de riquezas minerais, a descoberta de novas terras, a demarcação de limites e o apresamento dos índios, surgiram como conseqüências naturais da ambição daqueles que traziam no sangue a herança dos desbravadores. Penetrar nas matas, sondar-lhe as riquezas, descobrir os mistérios que ocultavam, passou a condicionar aqueles intrépidos em estado obsessivo. Os rios, estradas naturais, eram o convite, o caminho e o desafio por onde seus objetivos poderiam ser alcançados.
E surgiram as "Monções", como eram denominadas as grandes expedições paulistas que, por ocasião das cheias dos rios, se embrenhavam nas matas para conquistar as regiões do interior do Brasil, encontrar ouro e pedras preciosas .
Pelo Rio Tietê navegavam essas expedições que, partindo de Porto de Feliz e Sorocaba, dirigiam-se às zonas de minérios em Goiás e Minas Gerais.
Era costume, então, os bandeirantes (denominação dada aos componentes das expedições), deixarem em lugares escolhidos, algumas pessoas com a incumbência de formarem pequenos roçados de milho, mandioca e outros cereais que iriam servir de abastecimento, quando de volta.
Assim, chamavam eles de "barra", as margens que pudessem dar condições de ancorar suas embarcações, especialmente quando surgiam essas "barras" próximas à foz de afluentes menores, pois nestes podiam encontrar água apropriada ao consumo.
A margem do Rio Tietê onde hoje está localizada Barra Bonita, seria naqueles idos, de belíssima configuração natural. Uma enseada, ou angra executava gracioso contorno, logo acima da foz do córrego que corta a cidade. Possuía em toda a sua extensão, uma faixa de alvíssima areia, formando uma praia fluvial emoldurada por luxuriante mata, com espécies vegetais de grande altura e abundante vegetação arbustiva.
O engenheiro Benjamim Franklin de Albuquerque Lima, chefe da Comissão de Exploração dos Rios Brasileiros, em seu relatório datado de 21 de maio de 1877, dizia sobre estes lugares do Tietê: "suas margens são bordadas de grande vegetação, onde abundam grossos madeiros e palmeiras de alto porte, sendo comum o cedro, a arueira e a peroba".
Diante de visão tão agradável, supõe-se que os intrépidos bandeirantes tenham decidido fazer uma parada, ancorando suas embarcações "naquela barra bonita". E o córrego, naqueles tempos volumoso e límpido, tenha sido chamado "aquele córrego da Barra Bonita".
O que é produto de dedução, deixa de sê-lo, quando se esbarra em documentos. E o Rio Tietê repleto de lendas, fatos, tradições, que marcaram nossa história, dá a certeza da origem do nome dado a cidade que nasceu junto ao rio onde faz uma barra... bonita.
De acordo com as pesquisas realizadas, a Freguesia de Brotas sediava, por volta de 1850, uma extensa área territorial que abrangia várias povoações, vilas e distritos, entre os quais se incluíam: Jahu, Pederneiras, Bica de Pedra, Mineiros, Dois Córregos e Barra Bonita.
Em 30 de janeiro de 1854, foi baixado um regulamento que obrigava os possuidores de terra a efetuarem o registro das mesmas junto às paróquias.
Assim é que no livro número vinte de Freguesia de Brotas, Paróquia de Nossa Senhora de Brotas, existente na Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo - Divisão de Arquivo, encontram-se registradas no ano de 1856, as primeiras declarações de propriedades que descrevem a localização de terras, córregos e bairros, cujos nomes ao lado do Rio Tietê, até hoje fazem parte da configuração geográfica de Barra Bonita, como por exemplo: Córregos: do Entulho, da Ponte Alta, do Barreirinho e do Curimbatá; o ribeirão Barra Bonita, as vertentes da Barra Bonita; a Pirataraca (Piataraca); as terras da Ponte Alta, do Banharão e da Santíssima Trindade, entre outros.
Considerando a importância histórica desses documentos, transcrevemos alguns textos resumidos dos mesmos, através dos quais se comprova a existência de pessoas e de terras cultivadas nas áreas que formavam nosso território na época. É curioso notar a forma rudimentar como eram descritas as propriedades, limites e confrontantes, não havendo qualquer qualificação, endereço ou citação de documentos dos proprietários.
Eis alguns exemplos:
a) Reg. nº 29 de 29 de março de 1856
"Eu Manoel Cardozo de Moraes, declaro que sou legítimo possuidor de uma porção de terras de Culturas no lugar denominado Córrego do Barreirinho, dentro da Sesmaria do Banharão, etc... sendo meio quarto do lado do dito córrego, não ofendendo as vertentes da Barra Bonita, cujas terras confrontam com Odorico Nunes de Oliveira, Messias Franco de Camargo e Joaquim Antonio de Arruda, adquirida de Joaquim Antonio da Silva, etc, etc..."
b) Reg. nº 65 de 7 de maio de 1856
"Eu Bento Camilo do Amaral, declaro que sou legítimo possuidor de uma porção de terras de culturas no lugar denominado Ponte Alta, com as seguintes confrontações: principia em um espigão do Córrego do Entulho e desce Tietê abaixo, até encontrar terras de Geltrudes, viúva do finado Mandury, em um córrego e suas vertentes, etc..., etc... . O sítio confronta com terras de Odorico Nunes de Oliveira, José Ribeiro de Camargo e viúva do finado Mandury. Adquirido de Serafim Boeno de Oliveira, etc."
c) Reg. nº 146 de 31 de maio de 1856
"Eu José Ribeiro de Camargo declaro que sou legítimo possuidor de uma porção de terras no lugar denominado Santíssima Trindade (mais tarde adquirida por José de Salles Leme) com as seguintes confrontações: principia na Pirataraca (Piataraca) etc..., etc... fica dentro da marcação o Córrego do Curimbatá, etc..., divisando com Bento Camillo do Amaral, Joaquim Antonio de Arruda, Ododrico Nunes de Oliveira e Messias Franco. Adquirindo de Pedro Liberato de Massêdo e sua mulher, etc...."