A USINA DA BARRA S/A AÇÚCAR E ÁLCOOL
INÍCIO DE ATIVIDADES: 1946
No ano de 1943, uma transação de terras acontece no município. Igual a outras, o tempo viria provar, porém que a ela se credita a modificação da estrutura da cidade, com ressonâncias estadual, nacional e internacional. A Usina Costa Pinto adquire, do Senhor Octaviano Almeida Prado, a Fazenda Pau D'Alho, com trezentos e quarenta e um alqueires por Cr$ 700.000,00. Eram terras de cultura; um cafezal, casa de morada, casas de colonos, animais, maquinário, veículos, móveis, instrumentos agrários, duas usinas: uma elétrica, montada com 3Ohp e outra hidráulica, com força de 20hp e demais acessórios. A Fazenda Pau D'Alho estava se despedindo do café. Breve o farfalhar dos canaviais a projetaria como principal pólo industrial da região.
Nesse mesmo ano, adquire do Senhor Fernando Netto, a Fazenda Aliança, com cento e vinte e quatro alqueires, por Cr$ 300.000,00.
A compradora, Usina Costa Pinto, pertencia a um conglomerado de indústrias ligadas ao setor sucro-alcooleiro, de propriedade do Grupo Ometto. Para comandar a nova frente de trabalho, Pedro Ometto designa seu filho Orlando, então com 22 anos e há dois trabalhando na Usina Iracema.
Apesar da pouca idade, Orlando Chesini Ometto se revela administrador competente. Fibra, tenacidade e amor ao trabalho dão mostras de sua capacidade: em dois anos a Usina é posta em funcionamento, moendo o suficiente para produzir 49.380 sacas de açúcar e 107.269 litros de álcool, isso em 1946. Já era ele, Orlando, arrendatário de quatrocentos e sessenta e cinco alqueires da Usina Costa Pinto, conforme escritura lavrada no dia 26 de janeiro de 1945. A histórica primeira safra acontecia quando Barra Bonita estava sob administração do Prefeito Clóvis Pompeu. E em 1949, é constituída a "Usina da Barra S/A Açúcar e Álcool", que viria a ser a maior produtora do mundo.
A Usina da Barra transformou-se em Sociedade Anônima com o capital de vinte milhões de cruzeiros (valores da época), reformulando sua organização administrativa, com a criação de novos departamentos e além de ampliar seu quadro de fornecedores, adquiriu novas propriedades, proporcionando a aceleração de seu desenvolvimento industrial, econômico e financeiro.
Nas safras de 1959, 1960 e 1961 por medidas restritivas do Instituto do Acúcar e do Álcool. a Usina foi obrigada a diminuir seu nível de produção.
Na safra de 64/65 ocorreu um recorde absoluto: a fabricação de 3.008.604 sacas de açúcar e 17.500.000 litros de álcool, superando as estimativas que indicavam dois milhões de sacas de açúcar e dezesseis milhões de litros de álcool!
Esses números estimados constam do Suplemento Especial publicado em 13 de novembro de 1964, que acompanhou a edição nº 756 do jornal "Folha de Jaú" da mesma data.
É importante salientar que na citada publicação, na qual está narrada toda a história da Usina da Barra, desde o início de suas atividades, há uma página especial em que as honras da produção recorde das 2.000.000 de sacas de açúcar são "divididas" com todos os trabalhadores da empresa, sem distinção de níveis ou funções.
Uma homenagem que emociona pelo significado e pela valorização de todos os que tiveram participação nesse memorável feito.
Considerando o elevado sentido dessa manifestação pública de reconhecimento a um trabalho de equipe, transcrevemos, na íntegra, o texto da folha 19 do citado Suplemento Especial:
A UBASA - "UM TRIUNFO DO TRABALHO DE EQUIPE"
Evidentemente nesta efeméride ímpar, na história da produção açucareira, quando a Usina da Barra S/A ergue-se na importância de suas chaminés e se glorifica na vanguarda do avanço do império da cana, não poderíamos esquecer que, sob o comando de Orlando Chesini Ometto, batalharam para tão alto conteúdo industrial, o esforço, a dedicação e a energia diuturna de uma equipe altamente qualificada de colaboradores.
Não seria justo que as homenagens por tão notável acontecimento mantivesse na obscuridade histórica a participação ativa de um trabalho de equipe, sem o qual a própria Usina da Barra não poderia chegar à situação privilegiada de hoje.
Assim, por mais hercúleo que fosse o esforço de Orlando Chesini Ometto, o tempo seria dilatado para atingir tão altos coeficientes de produção, não fora a presença de seus categorizados funcionários de direção, de escritórios, operários em geral, braçais, motoristas, mecânicos e técnicos dos diversos setôres.
Cada qual no seu setor, seguindo sempre a diretriz perspicaz e segura do incomparável dirigente, operaram êsse milagre que hoje se realiza e que a todos emociona pela alta significação que encontra na vida econômica da própria Nação.
O ensacamento do 2.000.0000 de sacos de açúcar revela em cada servidor da Usina da Barra, do mais categorizado ao mais humilde, uma participação digna de registro. E uma cifra estonteante que se concretiza para estupefação geral e em cada funcionário da UBASA nota-se o sorriso da vitória porque nesse número está também a sua atividade gravada neste ou naquele setor.
Ao apitar da sereia da fábrica anunciando o momento exato da grande marca que assinala o recorde de produção sul-americana numa só safra, observaremos que cada olhar de funcionário estará querendo dizer, com justa ufania e orgulho: "eu também dei minha participação, eu também sou vitorioso". E assim é porque todos trabalharam unidos para atingir o objetivo hoje colimado".
Dessa perfeita sintonia entre empregador e empregados, resultou uma atividade crescente em todos os setores. As ampliações das instalações industriais; o aumento da área agrícola; a segurança no trabalho; os equipamentos de produção mais modernos; o controle de qualidade obedecendo as mais sofisticadas técnicas; as iniciativas de criação de Cooperativas de Habitação e de Consumo dando oportunidade de casa própria e de alimentos com menor custo a seus empregados; a ampla assistência médica-hospitalar e social prestada pela Fundação Pedro Ometto aos funcionários e enfim todos os investimentos comunitários que realizou ao longo desses anos, fizeram da Usina da Barra uma das mais conceituadas do País, incluída entre as mais avançadas do continente, em técnica e organização agro-industrial, além da primazia de ser a maior produtora de açúcar do mundo.
A MAIOR MOENDA DO BRASIL
Merece, igualmente, um registro especial a instalação pela UBASA da maior moenda de cana no Brasil, fato ocorrido em 24 de setembro de 1976.
Esse equipamento 100% nacional, fabricado pela M. Dedini S/A, de Piracicaba, com capacidade de moagem de dez mil toneladas, ou seja, dez milhões de quilos de cana, por dia, o maior já fabricado no Brasil, foi festivamente inaugurado pelo Presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool, General Álvaro Tavares do Carmo e pelo Diretor Presidente da UBASA, Comendador Orlando Chesini Ometto. Presentes ao ato, o Senador da República Teotonio Vilella, o Diretor Presidente da M. Dedini S/A, Dr. Dovilio Ometto, demais Diretores, técnicos, além de usineiros da região.
FONTE: Jornal da Barra nº 460 de 2 de outubro de 1976.
A EXPORTAÇÃO DO GRANULADO
Continuando seu crescimento industrial com vistas ao ingresso no mercado internacional, a UBASA realizou em outubro de 1977, a exportação para os Estados Unidos, do primeiro lote de vinte mil toneladas do açúcar refinado granulado "DA BARRA", inaugurando nova fase de progresso para o Grupo Ometto. (Jornal da Barra 514 de 29/10/77)
O COMENDADOR ORLANDO CHESINI OMETTO
Vida Pública
Integrando-se à comunidade barra-bonitense desde sua chegada em 1944, o jovem Orlando Chesini Ometto foi eleito por duas vezes, Vereador à nossa Câmara Municipal: no período de 1º de janeiro de 1948 a 31 de dezembro de 1951, na primeira gestão do Senhor Hermínio de Lima e de 1º de janeiro de 1952 a 31 de dezembro de 1955 na administração do Dr. Orlando Lopes. Na luta pela Comarca, foi Presidente de Honra da Comissão Central.
A benemerência e o espírito público faziam parte de sua personalidade. Os clubes sociais e esportivos; as entidades assistenciais, beneficentes, religiosas e de classes; o esporte, a educação, o desenvolvimento industrial e os projetos habitacionais populares, sempre mereceram de Orlando Chesini Ometto o apoio e a participação direta ou indireta, através de doações imobiliárias, materiais e prestação de serviços, inscrevendo seu nome entre os grandes benfeitores de nossa comunidade.
O reconhecimento público das nossas autoridades religiosas por tantas iniciativas beneméritas veio através da Comenda de "Cavaleiro Comendador da Ordem de São Silvestre Papa", concedida pelo Papa João XXIII e entregue ao homenageado no dia 31 de maio de 1959 em cerimônia pública realizada defronte à Praça São José, precedida de grande manifestação popular, representada por um desfile de todas as forças vivas da comunidade: escolas, clubes, comércio, indústria, entidades e todos os setores integrantes da UBASA: lavoura, corte e transporte de cana; fabricação, comercialização de açúcar e álcool; administração e assistência social, também demonstrando seu apreço ao novo Comendador.
Rodeado pelo carinho da família, saudado pelas autoridades e aplaudido pela multidão, recebeu, emocionado, das mãos do Padre Lauro Gurgel do Amaral a comenda que fez jus.
A Administração Municipal também prestou seu reconhecimento público ao Comendador Orlando Chesini Ometto, concedendo-lhe em 18 de fevereiro de 1963, através da Lei nº 364 o título de "Cidadão Benemérito".
Nada mais justo que oficializar um cidadania que já existia de fato há quase vinte anos.
O CIDADÃO
O Comendador Orlando Chesini Ometto preferia o anonimato. Seu grande prazer era ser recebido como um cidadão comum, nas festas e reuniões ao lado da esposa D. Martha Maria Simões Ometto e dos filhos. Pescarias no pantanal mato-grossense eram sua predileção. O contato com a natureza, em locais ainda inexplorados, fizeram-no um defensor da ecologia, muito antes desta ser tema obrigatório em todas as "rodas de ambientalistas", chegando até a patrocinar a edição de livro sobre a preservação das espécies vivas daquela região, demonstrando sua preocupação sobre o assunto.
Amigos, funcionários e todas as pessoas que o conheceram de perto, lembram a educação, os exemplos de compreensão, o equilíbrio de suas decisões e a grande sensibilidade na busca de soluções para os problemas do dia a dia, na vida de Dirigente da maior produtora de açúcar e álcool do mundo.
LIÇÃO DE VIDA
A Usina da Barra anuncia o fim da sua safra 88/89, estabelecendo novos recordes mundiais. Em 198 dias, foram moídas 5.745.922 toneladas de cana, que produziram 294.872.000 litros de álcool e 6.214.000 sacas de açúcar. O Comendador Orlando Chesini Ometto, incorporador da grande empresa, se deixa fotografar segurando a última saca com o significativo número. Nunca mais voltaria a fazê-lo, pois no dia 13 de dezembro desse 1988 falecia, em São Paulo, aos 66 anos, vítima de mal súbito. Desaparecia o grande capitão da indústria, aquele moço que, em 1944, com 22 anos apenas, viera a Barra Bonita com a intenção de montar uma destilaria de álcool. Seu arrojo, sua competência e sua determinação fizeram porém, com que o modesto projeto inicial se transformasse num dos maiores conglomerados agro-pastorís-industriais do País, onde a "Usina da Barra - Açúcar e Álcool" se projetou mundialmente, com sucessivos recordes.
Foi no campo da fraternidade humana, porém, que mais se destacou a personalidade do ilustre extinto. Sempre presente nos movimentos esportivos, sociais e filantrópicos de Barra Bonita - e da região - era ele o amparo certo na hora certa, nunca deixando que a mão que lhe fosse estendida se fechasse vazia. Responsável pela geração de 10.000 empregos diretos e indiretos, sempre valorizou o trabalhador, ganhando dele o respeito e a admiração, motivo porque a consternação era sentimento geral, naquele 13 de dezembro de 1988. Pela espontaneidade como aconteceu, na ocasião de seu sepultamento no cemitério local, foi comovente a atitude da gente barra-bonitense: um cordão humano se postou em ambos os lados da Avenida Pedro Ometto, por onde, silencioso, o carro fúnebre levava, sem vida, o corpo de quem proporcionara o viver a muitos.
Nascido em Piracicaba, aos 31 de agosto de 1922, Orlando Chesini Ometto fez de Barra Bonita sua terra por adoção. Agradecido pelo lugar que respondera de forma tão generosa às sementes plantadas, quis fazer dele sua última morada, qual fiel guardião das suas conquistas, pois é certo que, se a personalidade é transitória, a individualidade é eterna.
A Usina da Barra - Início de atividades - 1946
A Usina da Barra - 1955
Vista aérea da Ubasa - 1978
Comendador Orlando Chesini Ometto